Poesia “Sonha mundo!” e vídeo, abril/2020, Rio de Janeiro

Ana Paula de Souza Campos
2 min readJul 5, 2021

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Sonha mundo

Hoje eu tive um sonho muito estranho

Sonhei que me acordavam gritando:

— Cuidado! A casa está pegando fogo!

— Quem começou o fogo? — eu perguntei

e me disseram: — Parece que fomos nós!

— Como assim? “Nós” quem?

— Está pegando fogo,

você vai ficar aí parado ou vai fazer alguma coisa?

— Mas o fogo é muito grande! Já se alastrou! Quem é o desgraçado que está tentando nos matar?

— Eu já não disse que foi a gente, caralho, porra, puta que pariu! Faz alguma coisa!

Então, alguém me acordou gritando:

— O mundo vai acabar!

E eu olhei com os olhos escancarados!

— Calma! — me disseram.

— Não é hoje!

E eu fiquei me perguntando:

Sabe a notícia mais escandalosa que essa?

Você sabe!

Ana Paula de Souza Campos

Imersos na ilusão, na realidade, na virtualidade, nesse entrelaçado que são as vidas na nossa grande casa, nunca vemos tudo, nunca sabemos de tudo ou de muito do que se há para ver e saber. Ainda sim a maioria de nós age como se a realidade fosse apenas aquilo que vemos, percebemos e compreendemos. Mas nessa cena somos um pixel, indispensável para o todo, tanto quanto qualquer outro.

Numa eterna engrenagem de conexões nunca estamos sós ou isolados e as consequências do que somos chega para todos, como também para nós.

Somos aquilo que sonhamos? O que tem habitado o nosso sonho? Quanto tempo habitamos o nosso sonho? O nosso sonho envolve alguém além de nós?

O sonho coletivo como um encantamento não pode criar a realidade? A magia de criar um mundo novo precisa ser considerada uma obra de ficção científica?

Acredito na capacidade humana de sentir a vida que pulsa e o impulso a preservá-la, co-criá-la, não como algo que nunca morre, mas como algo que é belo quando desenvolve seu potencial de ser. Ser uno e todo, ao mesmo tempo. Somos eternamente dependentes como um compromisso coletivo. É de nossa responsabilidade as vidas das quais a nossa depende. É de nossa responsabilidade as vidas das quais a nossa sempre dependeu.

O que faço hoje para apagar o fogo?

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Ana Paula de Souza Campos
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Artista multimídia, poetisa e cantora da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro (em constante construção)!